Por entre a escuridão, Emi abriu os olhos.
Procurava em busca de resposta, mas nada encontrava. Em várias tentativas, penetrava sem resposta o fundo preto que os seus olhos alcançavam. Mas nada via, não havia nada. Nada que ela se apercebesse.
Com receio, parou.
Os seus pés agora juntos os braços agarrados à cintura, e a respiração ofegante padronizavam totalmente com uma postura assustada.
Parada, inconsciente dos perigos que a envolviam, continuava sem se mexer.
Tentou abstrair-se e pensou. Pensou que aquele era o lugar ideal para pensar. Mas nada lhe ocorria. Que teria ela para pensar num lugar como aquele?
Desesperada fechou os olhos. E aí pensou. Os seus pensamentos passaram a visões, e ela viu.
Viu cor, muita cor. Viu luz. Viu sombras. Viu uma montanha. Viu árvores. Viu flores. Viu estradas. Viu caminhos entrelaçados. Viu um jardim, repleto de pequenos narcisos. Viu as crianças sorridentes a brincar. Viu um lago com peixinhos. Viu bancos de jardim, onde as pessoas se sentavam felizes. Viu pessoas a ler, a falar, a olhar para os pássaros, a namorar e alguém sozinho. Viu casas. Viu a sua. Viu o seu quintal. Viu o seu irmãozinho a brincar. Lá dentro viu a sua mãe a preparar o jantar. Quase que lhe sentia o cheiro. Viu o seu pai no sofá a resmungar como sempre. Viu o seu quarto. Viu as suas coisas. Viu pela janela, as ruas. Viu a sua escola. Viu os seus colegas. Viu Adele acompanhada por amigas. E depois, viu Jun. Sorridente, passeava de mãos dadas com outra rapariga. Parecia tão feliz. Notava-se na forma como olhava e sorria. Era como se ela nunca tivesse existido. E eles eram felizes. Felizes assim, sem ela.
Ela queria falar. Queria chama-los, e contar-lhes tudo. Queria que eles a ouvissem, e compreendessem. E depois, queria que eles a protegessem.
Mas eles não a ouviam. Não a viam, nem a sentiam.
Apavorada, sentiu-se um corpo sem alma a vaguear sem destino.
Por instinto, abriu os olhos.
E tudo voltou a ficar escuro.
Voltara a ficar sozinha. Sem nada, sem ninguém. Apenas ela e a solidão.
Olhou, em volta já desesperada e gritou.
- Onde estás?
Ninguém respondeu.
- Estou só.
E só depois caiu na realidade. Só depois se apercebeu que afinal tudo aquilo não era um sonho, nem nenhuma ilusão sua. Aquilo era tão real como ela existir.
Já mentalizada, o suficiente, para o pior, começara a perder as forças. Queria cair, fechar os olhos e desaparecer. Já nada lhe interessava, nada mais teria a perder nem mais nada a ganhar.
- Jun. ... Onde estás?
E cansada chorou.
Chorou, chorou e chorou. Já não conseguia reter mais nada. Estava a transbordar de emoções e chorou. Chorou até se fartar. Chorou até as lágrimas secarem. Chorou, gritou e espezinhou até não poder mais. Chorou até se sentir vazia, sem nada.
Batia os pés, abanava a cabeça, sacudia o cabelo, rodava com os braços e chorava.
E depois parou.
Limpou as lágrimas, e aliviada esfregou os olhos.
Respirou fundo.
- Emi.
Aquela voz.
Tão doce e familiar, que ela reconheceria em qualquer parte do Mundo. O vazio que transportara dentro de si enchera-se.
Sentiu vontade e achou que era impossível não sorrir.
E sorriu.
Por desejo simultâneo, abraçaram-se os dois, e ela aí teve a certeza que tudo aquilo era real, e mais nenhuma visão sua.
Emocionada, chorou.
- Eu estive aqui, sempre estive.
(Afinal, nunca estivera estado sozinha.)
*___*
ResponderEliminarMuito jeito, sim senhora. Obrigado por seguires : )