Piece of my Heart

Pergunto-me várias vezes o que aconteceria ao Mundo, se o meu corpo deixasse de funcionar neste momento. O que aconteceria se eu não passasse apenas de um corpo sem vida ou de uma alma sem destino.
O que acontecia se a partir deste momento eu não passasse de mais uma mera recordação da memória das pessoas.
O que é que acontecia?! Pois bem, nada.
Atenção que eu não digo isto para me resumir à minha real insignificância, nem para chamar a atenção. Digo isto porque é verdade (mesmo que por vezes seja um bocadinho mentirosa :P).
Se eu morresse agora é claro que alguém iria sentir a minha falta. A minha família. Os meus amigos. As pessoas mais insignificantes que me acompanham no dia-a-dia.
Haveria pessoas a chorar. Haveria pessoas serias. Haveria ainda pessoas a bater mal.
Porque quando alguém morre é assim. Porque nós pessoas, só sabemos dar o valor a algo quando esse algo nos falta. Porque apesar de todas as filosofias e tretas da vida já ditas continuamos a não ser capazes de guardar na memória, apenas boas recordações e bons momentos que tenhamos desse alguém que partiu.
Claro que é bem mais fácil chorar e deixar-nos ficar assim como estamos. Perturbados. Afectados. Tristes. Parados e a ver o tempo que passa diante dos olhos.
Se eu morresse, era possível que a maioria das pessoas se recorde de mim pelo quanto eu era nova. Pelo quanto eu era nova para morrer. Que ainda tinha tanto para aprender e que não tinha aproveitado nada da Vida. Não era justo. Nem para eles nem para mim.
Poucas seriam aquelas pessoas que se lembrariam da minha maneira de ser. Do meu complexado feitio. Dos meus ataques de riso sem motivos. de não gostar de bacalhau nem de gelado. De adorar tostas de atum e de bolachas de chocolate de leite. Estes pormenores, a quem ninguém daria importância seriam esquecidos com o passar do tempo.
E ficaria para além da eternidade, uma recordação quase apagada de uma jovem alegre apaixonada pela vida.
E depois de tudo isto apercebo-me que o Mundo não pára. Que o tempo continua. Mesmo que pareça por breves instantes, mesmo que eu queira. Ele não pára. Sabem porquê? Porque eu não seria a primeira e última jovem a morrer injustamente. Porque mesmo que eu não me aperceba, existem vidas para além da minha. Muitas vidas. Vidas que continuam, enquanto eu me sinto única no Mundo.
É claro que eu não quero morrer, mesmo que ao escrever isto pareça.
Eu quero viver. Oh quero tanto. Quero crescer. Quero errar. Quero viajar. Quero amar. Quero estudar e ser alguém na vida. Quero viver cada dia com o dobro da intensidade que vivi o anterior.
Eu como toda a gente quero ser feliz. E por isso, lembro-me que a felicidade que todos queremos alcançar, encontra-se mesmo aqui. À frente do nosso nariz. Nas coisas mais simples. Na nossa essência. Naquilo que nos faz pessoas. Humanos. Crescer, Descobrir, Amar, Perdoar, Esquecer, Proteger, Pensar, Evoluir. Penso que é para isso que nascemos e é para isso que morremos.
Mas apesar de tudo a maioria dos jovens não pensa como eu. Esquecem-se que ter os telemóveis topo de gama ou de vestir roupa da melhor marca, não os faz mais felizes. Que até a um determinado ponto já não conseguem encher o enorme vazio que tem dentro de si próprios. Para isso meus amigos eu tenho uma palavra: materialismo.
Eles esquecem-se do que realmente significa ser feliz. E eu pelos visto também me esqueci.
Era bom que um vez ou outra relembrássemos às pessoas o quanto gostamos delas, e o quanto elas nos fazem felizes. Que por uma só vez, fizéssemos o que nos dá realmente na gana sem ter medo das consequências. Que de vez em quando fossemos puros irracionais e agíssemos sem pensar. Que de uma vez por todas deixássemos de ter medo e agíssemos como as pessoas que somos. Apenas porque sim.
Eu sei que não sou ninguém para dizer isto e que também eu já me queixei de diversas coisas sem motivos. Mas eu tenho esperança que um dia as coisas possam ser assim. Um dia…
A vida é curta, e amanhã poderá ser tarde de mais. Lembrem-se disso.

(sabem porque é que quase todos os bebes parecem felizes? Porque a vida deles é simples, tiram partido das coisas mais básicas da vida a que nós pessoas crescidas damos total desprezo).