domingo, 31 de maio de 2009

A primeira magia

Estava numa praia, a andar junto da beira de água, de queixo caído a contar as pegadas que dou, apreciando a engraçada forma do meu pé pouco normal e a aproveitar uma das coisas que para mim, das mais proporcionais que a natureza me pode oferecer, sentir o vento a bater na cara.
Há nuvens no céu e um leve, quase raso nevoeiro. Está tudo tão sossegado que sinto um leve arrepio e uma estranha curiosidade, quando me surgem ao ouvido vozes de fundo.
Não parecem risos, choros ou mesmo discussões. Um respirar cansado. E de repente, aparece um vulto na minha direcção. Ato, magro, bem constituído, parece ser um rapaz, não muito mais velho que eu. Parece estar a contemplar o mar.
A pouco e pouco vou-me apercebendo dos pormenores. Tem vestido uma camisa branca e uns calções desportivos que lhe dão pelo joelho. Tem o cabelo preto e espetado. Uns olhos verdes marinhos, grandes e profundos que se sobressaíam diante daquele cenário cinzento. Atrás dele, havia uma cabana branca, com uma varanda que usufruía de uma vista ampla de quase toda a praia. Parecia ser habitada pois estava muito bem arranjada.
Á medida que me aproximava ia-me apercebendo que não era nada feio. Passe a passe seguia o meu caminho, sempre imaginado mais à cerca daquele ser de que do nada começava a captar a minha atenção.
Aproximei-me dele e passei com o coração nas mãos. Ia jurar que ele não me tinha visto! Mas enganei-me. Oiço uma voz, doce, terna e tão calma. A voz que parecia ser dele era música para os meus ouvidos. Pergunta-me:
- O que é que uma praia deserta, com mau tempo, pode ter de tão interessante para uma menina vir para cá passear?
- O desconhecido. – Respondi imediatamente. Ele fitou-me com os olhos numa expressão terna o que me deixou ainda mais nervosa.
- Isto não é um local ideado para miúdas da tua idade. – Disse tentando repreender-me.
- Pois não, talvez seja por isso mesmo que tenha tanto desejo de cá vir. Não há raparigas da minha idade porque estão todas enfiadas em casa ou nos centros comerciais -. Ele olhou-me com um ar surpreendido quando abri a boca e soletrei aquelas “barbaridades”.
- E tu, porque não vais para esses centros comerciais?
- Estou a tentar reduzir a minha personalidade consumista. E aliás adoro o mar.
Ele riu-se, depois levantou-se, olhando para o infinito do mar, colocando as mãos nos bolsos.
- Eu acho que não conseguiria viver sem esta paisagem, sem o mar. Faz-me sentir tão tranquilo, transmite-me uma paz interior enorme.
Ouvindo aquilo, sentei-me na areia, na posição mais cómoda que encontrei, uma leve rajada de vento começava a propagar-se, estendi os braços e respirei fundo:
-Adoro, adoro sentir o vento a bater na cara e a agitar os meus cabelos, acho fantástica a maneira como eles parecem dançar, é sem dúvida…
- A melhor sensação que a natureza nos oferece – disse interrompendo-me.
E nesse momento senti que o conhecia há montes de tempo.
- Também tocas guitarra? – Perguntou-me ele quebrando o leve silêncio que se começava a propagar.
E foi só nesse momento que reparei que tinha estado com a guitarra às costas todo aquele tempo.
-Não, quer dizer sim, mais ou menos! – Estava tão atrapalhada. – Sei tocar algumas coisas, mas nada de extraordinário!
-Eu toco guitarra há anos, cheguei a dar aulas e tudo. – Sentou-se junto de mim.
E num gesto delicado, colocou o instrumento ao colo. Ambos fizemos silêncio. Os olhos dele brilhavam mais do que nunca. Tinham-se iluminado de tal maneira que me deixava completamente hipnotizada e maravilhada. Os seus dedos pareciam dançar. Fez-se magia.
Ouve-se um trovão. Ele levanta-se sobressaltado:
- Eu sabia que ia chover…
E nesse momento uma serie de gotinhas de água salpica-me o corpo, cada vez com mais força até ficar completamente ensopada. Comecei a saltar e a estender o corpo, aquilo sabia mesmo bem.
- Estás maluca?! Anda já para dentro se não ainda te constipas! – Gritou-me.
- Ai é só uma chuvinha! Anda! – Puxei-lhe pela camisola com um ar de criança tola, ambos começamos a andar às rodas. Estava tão tonta que quase cai para cima dele. Mas ele agarrou-me pelo braço, e por livre vontade, abandonei a chuva e refugiei-me dentro daquela «barraquinha».
Lá dentro sentei-me num banquinho à frente dele. Ele com paus e papéis velhos que lá tinha, fez um molho e com um isqueiro acendeu uma fogueira, no nosso meio. Com uma expressão séria sentou-se do lado oposto da fogueira.
Contemplava os graciosos movimentos das chamas em tons laranjas e avermelhados sem dizer uma única palavra. Os olhos continuavam brilhantes. Pareciam pérolas no fundo de um oceano de chamas. Era um cenário digno de se ver. Davam vontade de tocar e guardar no lugar mais seguro do Mundo. Seguia hipnotizada cada, seu pestanejar. E durante cinco segundos o nosso olhar cruzou-se e senti um calafrio a atravessar-me a espinha e uma estranha sensação de desconforto. Um espirro forçado veio a meu auxílio.
- O melhor era tirar a roupa ou ainda te constipas. – Disse isto com o olhar preso ao chão.
Por momentos hesitei, mas lá concluí que era bem mais inteligente deixar a roupa secar. Levantei-me lentamente e depois de sacudir o vestido que tinha trazido, comecei por desembaraçar os nós que prendiam as alças e depois puxei-o para cima.
Como o vestido era quase transparente, não resisti à tentação e enquanto o tirava olhei para ele.
Começava lentamente a fitar-me com os olhos. Larguei o vestido ao pé de mim e ele parecia estar hipnotizado. Agora quem lançava a magia era eu.
Sentia-me nervosa e por mais que pensasse, não conseguia arranjar algo que se enquadrasse ali, naquele cenário. Ele, como se tivesse a seguir alguma indicação levantou-se e tirou a camisola num gesto glorioso. Não era para menos. Cada abdominal era mais perfeito do que outro. Cada músculo mais trabalhado do que o anterior. Era um peito digno de alguém se orgulhar mas ele estava tranquilo. Sabia de cor cada esforço e trabalho para cada forma naquele corpo venerável. E com tanta personificação, involuntariamente mordi a ponta do lábio esquerdo.
Os nossos olhos não se desencontravam. Os seus pés começam-se a mexer sozinhos, num género de dança há muito pensada e ele começa a caminhar na minha direcção.
A cada passo seu, o meu ritmo cardíaco aumentava e por mais que quisesse estava presa ao olhar dele. Não demorou muito tempo até estarmos a um palmo e meia de distância um do outro. Ele estava tão perto que mesmo mal, lhe conseguia ouvir os batimentos do coração.
Sentia-me nervosa e aflita mas ou mesmo tempo, no lugar mais seguro do mundo.
E foi assim que percebi que estava apaixonada. Perdidamente apaixonada por alguém que acabava de conhecer há não muito tempo, mas que para mim era muito mais do que uma simples eternidade.
Aproximou-se de mim e fechou os olhos, mas foi a luz do luar que começava a entrar pela sala que captou por súbito a minha atenção.
É claro que me arrependi mais tarde. Mas estava uma noite espectacular.
Teria mesmo chovido? Larguei-me dele e corri até à areia, e chamei-o com toda a força que conseguia. Só depois me lembrei que nem o nome dele sabia. ^
Resolvi não dar importância a isso e corri desnaturada para a água. Dei um mergulho e num mau jeito torci o tornozelo.
- Socorro! Ajuda-me! Torci a perna!
Ele correu em meu auxílio. Mergulhou para a água e desapareceu. Olhei para todos os lados assustada. Sinto algo a puxar-me as pernas e aflita começo a dar pontapés.
Era ele. Apareceu à superfície mesmo coladinho a mim, a rir-se.
Senti vontade e sorri espontaneamente. Ele parou o riso, e começava a demonstrar a mesma expressão terna que tinha feito logo a seguir de me ter conhecido.
Com a mão, fez um leve e suave toque junto da minha bochecha que começava a corar.
- Tens um sorriso tão… genuíno. Aquilo fez-me corar ainda mais e ele começava a aproximar-se cada vez mais. Repetia-se assim a cena de há bocado, só que um pouco mais molhada desta vez.
- Fecha os olhos. – Sussurrou – fecha os olhos e eu prometo fazer magia, magia da qual tu nunca viste.
E em simultâneo fechamos os olhos. Quem me dera nunca mais tê-los aberto.
Ele abraçou-me colocando os braços de roda da minha cintura e houve magia. Não magia de poderes, de fazer desaparecer coisas, de falar com animais ou desaparecer. Era a nossa magia. Recentemente criada. Em que nós sabíamos de cor cada regra e cada truque que nos considerava, naquele momento, os melhores mágicos de todo o Mundo.

Continua :)

3 comentários:

  1. A hostoria mais linda do mundo foi escrita pela minha Betes Venn@@@
    Amo.te minha!!!

    ;) *****

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  2. OMG, eu a ler esta merda pensava que ia acabar em foda! XD
    E num gesto delicado, colocou o instrumento ao colo. (..) Fez-se magia.
    Eu a ler esta parte..
    OK, nao e precios dizer, a minha mente explica tdo :P
    E a continuaca? :O
    Aposto que ai vao se beijar e andar no kanguru e.e

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Se te deste ao trabalho de ler isto tudo, que tal um comentário'zito? :)